terça-feira, 27 de setembro de 2011

O outro olhar da notícia?


A edição do Plantão Popular do dia 15 de setembro traz a notícia “Nova invasão avança em Parintins em propriedades particulares”.
 Para fazer referência aos envolvidos no assunto, o repórter utiliza de termos como “invasores” (leia o texto abaixo), se munindo da declaração de uma fonte não identificada, denuncia que existe um grupo de pessoas que se aproveitam da miséria humana: “os cabeças das invasões estão muito bem de vida, porque sempre ganham dinheiro, sem trabalhar. Eles vivem à custa da politicagem...”.
 Percebe-se durante todo texto a construção de um discurso que coloca os envolvidos como vilões da história, um enquadramento negativo do assunto. É comum essa abordagem nas coberturas jornalísticas sobre ocupação de terras. Geralmente verifica-se a prioridade do texto em destacar quem está certo ou errado, é estabelecido um pré-julgamento.
O mesmo informativo publicou, na edição do dia seguinte, 16 de setembro, a matéria: “Promotor diz que invasores cometem crime ambiental”. A cobertura adotada é a mesma, isto é, condenando os ocupantes do loteamento.
O interessante seria se o jornalista buscasse enfatizar uma pauta social. Buscar conhecer os verdadeiros motivos que levam essas pessoas a ocuparem o local, questões como o crescimento desordenado da cidade, a falta de moradias e as condições de sobrevivência, em geral.
Quanto ao “crime ambiental”, o resgate de discussões como a criação do Residencial Vila Cristina, por exemplo, poderia ser relevante. Afinal, esse caso não foi uma agressão ao meio ambiente? O que torna a nova ocupação uma situação mais grave? Se há mesmo uma “indústria das invasões”, como é citado no texto, mostrar quem são os “cabeças” do movimento, ou no mínimo os acusado, daria mais credibilidade à informação.
Portanto, o periódico, que se intitula: “O outro olhar da notícia”, apenas repete a abordagem comum de outros jornais do município. Usam uma pauta pronta que criminaliza os participantes da ocupação.

Karine Nunes

Um comentário:

  1. Dá até pra entender, mais ou menos, a posição de alguns jornais, pois são claramente ligados à prefeitura e não tem jornalistas de formação trabalhando.
    Mas não admitia, até ver isso, esse tipo de enquadramento no Plantão. Mas é assim que descobrimos algumas coisas.

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